sábado, janeiro 14

Caderno G - SÁBADO, 14 de janeiro de 2006

Público variado se reveza entre os diversos bares do circuito alternativo curitibano
EM BUSCA DO SOM IDEAL

Foi-se o tempo em que fãs de rock eram roqueiros e ponto. Basta dar uma olhada na programação dos bares locais que se dedicam ao gênero. Há os mais tradicionais, que contam com shows de bandas cover de formações clássicas. Também existem os undergrounds, pequenos espaços destinados a apresentações de grupos de música própria, de estilos como punk, hardcore e heavy metal, entre outros. Os dois exemplos reúnem um público distinto e fiel, que condiciona a programação de seus fins de semana de acordo com o calendário dos redutos que costumam freqüentar.Porém, talvez nenhuma subdivisão da “tribo” roqueira encontre tantas opções atualmente como os ouvintes do chamado rock alternativo, independente, também conhecido como indie rock ou “novo rock” – como prefere a geração pós-Strokes. Nos últimos dois anos, a cidade vem experimentando um verdadeiro boom de bares que destinam suas programações a esse público, cuja principal exigência no momento de escolher aonde ir no fim de semana é: o que vai tocar?

Veteranos da cena alternativa local, os arquitetos Eduardo Pinha e Márcia Bley, ambos com 29 anos e sócios em uma empresa de arquitetura, acompanham há mais de uma década as mudanças e o crescimento do circuito de bares destinados aos fãs dos sons independentes. Márcia, por exemplo, iniciou sua vida noturna freqüentando os já extintos Joey, Jail e Circus. Já Eduardo era um dos clientes assíduos do também finado Dromedário. As escolhas de ambos, desde o início, estão relacionadas a um único e exclusivo elemento: a trilha sonora. “A música é a questão fundamental. As pessoas vão aos lugares que tocam o que elas gostam de ouvir e que não escutariam em outros locais”, analisa Márcia. “Mais do que ser fiéis aos bares, as pessoas são fiéis à música”, completa Pinha.E é a partir deste ponto de vista que a dupla encara o rápido desenvolvimento da cena curitibana de bares alternativos. Hoje, além do já veterano James, inaugurado há sete anos, existe quase uma dúzia de espaços em que se reveza o público indie – entre eles os bares Korova, Retrô, VU, Chinaski, Wonka, Lola Café e Iggy Rock. “Sempre fui de freqüentar os mesmos lugares e não variar muito. Quando o Dromedário fechou as portas, em 2000, passei a ir só no James. Mas, no ano passado, começaram a aparecer concorrentes de peso nesse circuito”, explica Pinha.Com tantas opções, Márcia e Eduardo buscam aproveitar o melhor de cada local, de acordo com seus gostos musicais. O que, aliás, já rendeu outra parceria à dupla – eles costumam discotecar juntos em algumas festas, além de manter, cada um, o seu fotolog, onde costumam postar imagens captadas durante as baladas. “Com o aumento do número de bares, começaram a aparecer diferenças nas programações de cada um”, conta o arquiteto.Um exemplo é o Wonka, inaugurado há alguns meses, que procura variar sua programação com atrações que vão desde a declamação de poesias à apresentação de grupos de jazz. O bar, dos mesmos proprietários do antigo Dromedário, vêm disputando pau a pau o público indie com o James Bar aos sábados, noite em que destina seu aparato sonoro a DJs de rock – que costumam tocar no mesmo James às quartas-feiras, na já tradicional festa semanal Quarta Rock.Outra transformação percebida por Eduardo e Márcia é a faixa-etária dos freqüentadores dos espaços da cena alternativa. Segundo a arquiteta, atualmente 80% das pessoas que hoje vão a esses bares assiduamente têm entre 20 e 25 anos. A dupla ainda ressalta a existência de uma geração ainda mais nova de indies, que encontram seu lugar ideal nas festas do núcleo independente In New Music We Trust, com DJs especializados nas mais recentes novidades da indústria alternativa mundial – lançadas depois dos Strokes, é claro! “Mas nós somos das antigas”, divertem-se os colegas de trabalho, baladas e picapes.

Juliana Girardi