terça-feira, novembro 7

Em que você trust?

Denis: "É mal notar a galera desprezando todo um trabalho, devido ou ao sucesso ou à simplicidade de uma música"
Fulano de tal:"É como se os papéis se invertessem e uma canção já nascesse tendo maior dimensão que todo o álbum do qual ela faz parte

Uma das questões que povoam minha cabeça enorme (e não apenas a respeito de música, mas que aqui seja esse o foco) é a da efemeridade de nossa atenção, conseqüência da insuficiência perceptiva e a conseqüente queda nos índices de sensibilidade. Não por acaso, questão tão atual quanto menor sua obviedade. E digo isso porque a tendência parece ser absorvermos a modernidade como se ela fosse a exata medida do fôlego que precisamos para respirar vida. Do que exatamente estou falando, Denis? Sendo simples e direto, estou querendo dizer que.

As pessoas têm reconhecido as bandas pela música, se aquilo se assemelha a “Take me out” ou “Obstacle 1 ou “Room on fire”. E não quero dizer que deveriam falar que os primeiros têm visual igual ao do Pulp, os segundos soam Joy Division ou os terceiros roubam riffs do Television, pois esse é o modo de raciocinar da geração anterior (vide as constantes guerras entre os países new music contra os old school – capítulo a
no passado, versículos meses a fio). Dando o tapa em cheio na cara, importa dizer que ninguém mais (o drama é pra chamar a atenção) ouve o álbum. A galera mais nova (e, aqui, estamos todos nós os modernos, sejamos pós-, contras-, antis- ou símios) gosta da música e mal se preocupa em saber, ou percebe, que ela é parte de uma obra chamada álbum.

Muito comum entre nossos antepassados, os álbuns eram não compilações de músicas ou apanhados gerais do que fizemos de último, e sim conceitos musicais - traduzidos em canções - separadas por faixas – combinadas nesse todo - transformado em obra. Antes, sulcadas quase que manualmente em vinis e, na década passada, até atingiu o moderno formato do CD. Agora, as encontramos por aí, espalhadas em meio aos bilhões de bytes salvos na forma comumente conhecida por mp3, um jargão pós-moderno.

Não se trata de realizar aqui e agora uma ode ao passado, pois há muito, já, o olhar sobre o passado não alivia nossa culpa presente, sequer aponta desígnios futuros, pois perdemos a capacidade de vê-los nas entrelinhas do que já aconteceu. Enquanto uns cultuam o passado e outros enaltecem o futuro, proponho reunir os opostos e discutir o momento atual, apenas como uma forma de atentar, em conjunto já que
estamos fraquinhos para fazermos sozinhos, à tal modernidade (ou o nome que queiram dar) em que vivemos.

Se acreditamos na nova música, falta a creditarmos como digna de uma atenção maior versus a efemeridade de nossos consumismos, oportunismos, neologismos, macaquismos. Enfim.