quinta-feira, janeiro 11

FOLHA DE LONDRINA, Quinta-feira, 4 de Janeiro de 2007
Caderno
Curitiba, pág. 4



Curitiba, capital do novo rock?
Por
Claudio Yuge



DJ e idealizador de festa itinerante especializada em novidades
fala sobre o rótulo da cidade e comenta sobre
a tendência na vida noturna



Curitiba, capital do novo rock. Um rótulo dado por gente que vem de fora curtir as noites por aqui e que muitos acabam aceitando. Mas até que ponto isso tem a ver com a realidade da cena local e o que é exatamente esse novo rock? Ninguém melhor pra responder do que quem vive isso diariamente.

Pra gente que está aqui é muito fácil falar porque estamos vivendo bastante isso. Mas não é a gente que fala, é o pessoal de fora, de São Paulo, de Londrina, de Belo Horizonte. Eles se surpreendem por estarmos tocando só rock e ainda novo. Mas isso é mais um rótulo só, aqui em Curitiba está acontecendo muita coisa e não só isso”, diz o DJ e cineasta Denis Pedroso, 25 anos, idealizador da festa itinerante In New Music We Trust, com a proposta específica de trazer novidades.

O chamado new rock, ou novo rock, é uma tendência que cresceu a partir da virada do século, principalmente com o hype criado a partir das bandas The Strokes, The White Stripes, The Libertines, entre outras ‘The’. Em seguida, o rock voltou para as rádios, para as vitrines, para as ruas, para todos os lugares. Mesmo antes, durante ou depois da última explosão do gênero, com o Nirvana, em 1992, os grupos não pararam de produzir, só não vendiam como hoje. E, claro, o que se estabelece comercialmente ganha fôlego.

É rock também, mas o rock estava em baixa e aconteceu alguma coisa para que viesse a ser chamado de novo. É difícil dizer que trouxeram alguma novidade, as bandas seguiram o movimento do rock. Sofreram influências e, de repente, entraram em evidência”, comenta Pedroso.

Para o DJ, os jovens britânicos do Arctic Monkeys são quem melhor podem representar o novo rock. “O Arctic Monkeys seria o emblema do novo rock porque se tiver que pegar alguém é a única e primeira banda que sofre influência dessas bandas novas. Eles seriam uma mistura dos Strokes com o Libertines. A referência que fazem ao passado é que o garoto do Arctic Monkeys é tão novo e escreve tão bem quanto o Morrissey”, explica Pedroso.

Geração MP3 – O público do novo rock costuma ter entre 17, 18 e 25 anos, mais novo do que os entusiastas do chamado rock clássico. A facilidade em lidar com a tecnologia – MP3, programas de trocas de arquivo, internet, iPods, entre outras bugigangas – acaba favorecendo quem já cresceu com essas ferramentas de comunicação.

Quando penso nisso não vejo como um movimento isolado, mérito apenas de uma geração. O acesso à internet e aos álbuns é algo que vem acontecendo desde a década de 90 e veio crescendo. Rock novo é fruto dessa era, de acesso fácil, de troca de arquivos”, reflete Pedroso.

O DJ, no entanto, acha que o novo rock não é coisa só de gente mais jovem. “Acredito que o público vá ser mais novo por conta de geração mesmo. O novo rock está fazendo sentido para essa geração. Mas eu vejo muita gente pesquisando e participando desse movimento que não são pessoas assim tão novas. Os mais novos têm mais facilidade com a tecnologia mas quem dá crédito não é esse público, por estarem ouvindo, e sim são quem tem conceito, crédito, e dão valor, musicalmente, para o que está acontecendo”.

In New Music We Trust – A partir de uma idéia semeada em Dezembro de 2004, Pedroso e um grupo de amigos passaram então a se dedicar às novidades e criaram uma festa itinerante em Curitiba. O In New Music We Trust ( http://www.innewmusicwetrust.com.br ) teve até agora 14 edições e média de público de 400 pessoas. Passou, inclusive, por Londrina com público de 700 pessoas, e agora deve transitar por Maringá e Ponta Grossa.

Não é para ser novo rock. É qualquer tipo de música ou estilo novo, pra gente começar a ouvir bandas novas. Surgiu quando a gente estava já entediado e enjoado de ouvir as mesmas músicas na noite. Então, ao invés de simplesmente criticar, decidimos fazer algo paralelo a isso, que ofereça outra possibilidade”, explica o idealizador do projeto.

Segundo Pedroso, hoje a festa também serve como porta de entrada para um novo universo musical. “Você passa a enxergar e dar crédito para o que veio antes disso. Esse é o movimento da coisa, não se fechar. Sempre vejo que as pessoas estão quietas e precisam reagir. Você sempre tem que começar de algum lugar e pode começar daí, e com o tempo enxergar a coisa de uma forma global”.

Mas e quando o novo rock ficar velho, o que deve acontecer com os fãs? “Se você é simplesmente fã do rótulo, que só gosta da novidade, vai morrer com a tendência. Porque se você não perceber que o rock é uma evolução, que as bandas se alimentam uma das outras, geração a geração, você vai morrer com a imagem, por não estar comprometido com a própria música”, completa Pedroso.