quarta-feira, maio 30

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Descobrindo Bandas no Myspace
Blog e comunidade de Claudio Szynkier


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No começo de Maio, o Claudio voltou-se sobre o mundo paralelo inglês e trouxe de lá boas novidades. E isso aconteceu durante o mês todo, em três posts, os quais eu recorto e colo aqui pra te sugerir as bandas. Mas, não só isso. Pra te sugerir, também, que acompanhe o trabalho do Claudio que, se tu entrar lá no blog dele e se ligar, tem trazido muitos bons frutos, numa sonoridade a qual, eu tenho certeza, tem passado longe das bandas novas que tu tem conhecido ultimamente. Se liga!


Inglaterra Paralela – 1

Uma idéia que sempre se insinuou para mim, desde o início, é a de uma série da Inglaterra. O país é uma engenharia cujos aspectos geográficos se confundem com os culturais: sua característica "ilhada" provoca uma coleção de peculiaridades e modos isolados lá mesmo (direção no lugar do passageiro). É assim com o pop também.

Já que falamos na semana que passou sobre Paul e o início de tudo, o lance é que ao longo dos anos, a mídia inglesa moldou seu próprio sistema de fabricação e movimentação pop. Nesse mundo à parte, algumas coisas que chamamos de "indies", como o Klaxons (ótima) ou o Arctic Monkeys (adoro), ou os smiths, são artistas protagonistas de um azeitado sistema de circulação e promoção, baseado, como as cervejas tradicionais, em velhos ingredientes: o mito da rebeldia e a juventude criativa e perpétua.

Hoje então, os formatos se unificaram em uma só frente de propagação desses artistas novos, via revistas, via vários canais virtuais. Na verdade, em relação aos ecos desse sistema pop britânico, sinto uma impaciência. Com o auxílio desse tradicional cartório das bandas que chamam "the", ele inventa, enreda e gere, com uma certa chatice, com um deslumbramento quase populacho, não só elas, as bandas (boas ou não), mas também seus "habitats" conceituais: o gênero new rock (nada contra a sonoridade em si), por exemplo.

É por isso que eu costumo dizer, sem me privar de leviandade, que uma música independente consistente só existe nos EUA e em sua vizinhança. Essa série que inauguro, porém, é para eu mesmo refletir sobre essa leviandade. E a estratégia é simples: montar um painel maleável das boas e inventivas bandas inglesas que não estão nessa centrifugadora pop insular. Que não estão estampadas nas revistas. New rock, barrocas, eletrônicas. Que sejam, antes de tudo, legais e trafeguem (ainda) pelo paralelismo. Se a Inglaterra é um mundo paralelo na constituição da música pop, minha proposta a partir de agora é encontrar (dentro dele) o mundo que é paralelo a ele.


E começamos por Brighton, de onde vem esse classudo pop do Veldt (clique no cinza). Absolutamente em conexão com a velha guarda da elegância musical "royal", inglesa ou não, da década de 60 (tipo scott walker), desfilam com um pop sinfônico. Um (autêntico brit)pop que se viajasse no tempo para 95 e depois para 65, não seria estranhado nas calçadas. Ok, diriam em 65 que é extravagante demais. Em 95 diriam que é retrô... e extravagante demais. E é bem bonito também, parece o Misty Roses, que eu já postei aqui e tem um cara inglês. "Aviary hive" é obra-prima, e gravata de bolinha neles.

Já o Pete And The Pirates (clique) chega com as turbinas dessa geração que está rolando exatamente agora. Podem até ser chamados de new rock, embora de novo nada tenham e de entusiasmante tenham tudo. Sobrinhos-netos do The Who, priminhos do Clap Your Hands Say Yeah e dos Figurines, tocam adolescência no talo e tá muito bom. "Come on feel" é um clássico no berço.



Inglaterra Paralela – 2

Como já havia escrito no último post, estou em uma fase de detectar e apresentar preciosidades novas e meio ocultas da ilha. Manifestações diferentes e paralelas à atual música inglesa que está por aí no ciclo dos holofotes e promoções. Hoje dou seqüência à série com mais duas bandas. Ambas têm a psicodelia, a viagem exploratória, como um sofisticado propulsor criativo. Mas cada uma vem com apelo próprio e quase inverso: a primeira mais sacana e cômica, a outra mais romântica e clássica.

Eu gosto dessas entidades bizarras da música porque elas não permitem muita explicação, quando muito, especulação. O que torna tudo mais divertido. Abrindo o post, temos dois jogadores de futebol do leste europeu imigrantes na Inglaterra. Miklos Kemecsi e Tamas Szabo, que formam o
Agaskodo Teliverek (clique no cinza). Eles tocam música de festa e reuniões em geral, de qualquer tipo, seja um encontro entre jogadores de winning eleven, seja uma rave avant.


Beats, teclas infantis, samba, rock inglês, em músicas que parecem aqueles personagens engraçados do scooby-doo que, ao final, vão tirando máscara sobre máscara até se revelarem. A obra dos caras tem essa tônica de construção: imagem (sonoridade) falsa sobre imagem (sonoridade) falsa, e, curiosamente, o todo se revela bastante marcante e consistente. Fiquei apaixonado pela não-canção 'Valeria lobelia', que parece um Gentle Giant, banda inglesa de math-prog dos anos 70 (pai do grande Battles), regredido em idade e reimplantado no rio de janeiro. E é bonito, com tudo isso. Sem letras e sem voz os caras conseguem lapidar, mesmo assim, narrativas hilárias em suas músicas.

'Stupid girl' é a leitura cômica mais animal para certos clichês do rock inglês que eu já escutei. É um lindo bate-cabeça de pista surreal, que remete a um Arctic Monkeys mais jazz. Envenenado por todo tipo de timbre e exagero sonoro afetado, pronto para tocar em uma festa para crianças e idosos bem loucos.

Já o
Souls She Said (clique no cinza), é uma banda que os mais despudorados, eu talvez me inclua, poderiam etiquetar às vezes de rockão clássico. Quase como um Led Zep, mas em transe psicodélico absolutamente moderno. 'Floor on the floor' tem um falante que estoura no refrão, produzido um zunido anabolizado, de um bicho ou de escavadeira lunar enorme.

São dois caras, Jon e Don, meio andrógenos, que, com uma delicadeza dançante Interpol, também flutuam dentro da nave construída no pátio da fábrica LCD Soundsytem, com pintura colorida especial feita pela firma do Flaming Lips. É bonito por ser bonito. E a raiva depurada, meio bicha, de algumas sonoridades meio à Sonic Youth nunca deixa de expressar romantismo, um romantismo realista e maduro.



Capítulo encerrado, já temos quatro bandas inglesas novas que eu acho responsa, os brit 60's do Vedt (classudo) e do Pete And The Pirates (rocker bebum) e dois lados complementares da psicodelia (o mix refinado do Souls she said e a algazarra sonora do Agaskodo Teliverek). Depois tem mais.



Inglaterra Paralela – 3

Essa seqüência da Inglaterra paralela me faz pensar sobre por que as revistas brasileiras, Bizz e Rolling Stone, são tão omissas em procurar e comunicar 90% das coisas que representam alguma coisa de verdade nos cenários brasileiro e mundial. Há geralmente espaço apenas pra 10% em suas páginas, por defasagem (informativa/ instrumental) mesmo ou por critérios que desconheço. Os caras tão comendo bola, até onde eu sei, desde que (re)surgiram. Exemplo é a alienação e "desinquietação" em relação trabalhos como Yellow House, do Grizzly Bear, e em relação a quase todos os canhões canadenses: Swan Lake, Destroyer, etc. Nem precisa continuar.

Mas continuando a viagem e a garimpagem de novidades "ocultas" inglesas, dois extremos. Um adolescente sujão solto para o mundo; e o outro um adulto, e paradigma da internação.

Às vezes a beleza e a riqueza vêm disfarçados de imprecisão, de falta de rigor e amadorismo. Seria fácil dizer que o Let's Wrestle (clique) é tão bom de tão ruim, mas o caso é que sua música espontânea de becos londrinos, freqüentados por alunos de espinha depois da escola para fazer merda, é foda mesmo de ser concebida. muito bom. pareceria música de produtor punk véio, com esses personagens inventados e fotografados abaixo.


O "equívoco" dos baixos desafinados de
'Man with a pica syndrome' é tão cuspido, expressivo e, na minha opinião, pesquisado quanto a métrica absurda de uma música como 'Song for abba tribute', que só pode ter nascido de algum lugar entre a calçada e o asfalto, e depois de muitas experiências e bebidas plurais. A voz monotemática e cotidiana de um tal de Wpg, que deve ser essa figura de óculos da foto, flutua dando e não dando importância aos versos, e parece ter se empenhado na canção só dessa vez em que foi gravada. Porque depois é como se não houvesse sentido repetir. Estatuto selvagem e inteligente de composição.

Let's Wrestle é mais ou menos o que o punk 77' quis ser e, acho que na totalidade, não conseguiu. É mais ou menos o que os Kinks quiseram ser em alguns momentos e de fato conseguiram. Tem também um pouco de Arcade Fire bruto, lixo e Velvet Underground sem clichês no combo sonoro. É quase tudo o que a Inglaterra em seu projeto oficial de mídia e comportamento se imagina e pretende, está tudo aqui , bem-acabado e sem medo. Acabou de lançar EP, Marquis cha cha. Pega.

Já o Ylid (clique) é mais delicado. Mais dentro do apartamento do que perdido nos bueiros vomitados, menos físico, mais feminino e também mais agasalhado, dando comida para os bichos da casa, do que os nossos colegas de cima. E nem por isso menos interessante e potente. Ele, Robert Lyon, faz uma música eletrônica de construção, aí sim, explicitamente rigorosa. É dessas iniciativas musicais que sem o Radiohead não existiriam. Mas que, hoje superariam, em atualidade, exuberância e desenvolvimento criativo, o próprio.



Músicas como 'Sea hunting', que é meio como um submarino trafegando pelos restos mortais dos afetos de alguém em sua banheira instalada em uma casona em Oxford, são um primor. Começam com uma idéia pilar, mas vão se transformando a partir de outra, de uma maneira sorrateira e progressiva. As melodias do Ylid são marítimas e se anunciam calmas. No trajeto, porém, há uns entulhos sonoros espalhados pela rota, que ela vai recolhendo e que vão redesenhando-a, mutando o itinerário e destroçando toda a forma original da música. Geralmente para algo doentio e sem rédeas. Mar sideral. O Four Tet faria esse som. Post-electronics de categoria, é essa a parada.


por Claudio Szynkier
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