domingo, setembro 9

Dirty Projectors




um texto, ou melhor, um blog para destrinchar cada razão que faz do dirty projectors (clique) indispensável seria o suficiente. um texto para falar de tudo é foda. no entanto, se você der uma volta pelas nem tão desérticas páginas de internet publicadas em território brasileiro, não acha citação alguma sobre david longstreth, vulgo dirty projectors, uma das jovens mentes musicais mais produtivas e simbólicas do momento mais importante que já vivemos no pop: hoje.

conheci o dirty projectors no ano passado, quando me aprofundei no que tava rolando no brooklyn, que eu já havia identificado, sacando o inlets, o grizzly bear e, claro, o tv on the radio, como celeiro e ponto de congregação dessa atualidade frutífera e realmente pluralizada. a jerusalém pop da minha geração. mas o fiz não sem um certo atraso, pois a banda acabara de lançar um ep, o 'new attitude', que já era subseqüente a três longs.

david tá no meio desse turbilhão de liberdade que é a vanguarda do brooklyn, constituída toda por pessoas naturais de outros pontos da américa (como o sebastian, do inlets, que é de winsconsin) e que em nova iorque se juntaram, no aconchego dos pequenos apartamentos, modelando, pós arrombamento de todas as portas tecnológicas e 9/11, novos sons. e não só. uma outra pegada juvenil tb (sim, comportamental), que a gente não conhece e, claro, realmente não pode absorver por aqui.

o disco



memória que tenho de henry rollins é ele, aos meus 14 anos, ensangüentado depois de uma peripécia carismática mal-sucedida (autojoelhada) em um palco a uns 200 metros de casa na minha cidade de adoção, santos. era um festival de rock patrocinado pela marca de tênis M 2000, um pouco antes ou um pouco depois do brasil ter sido tetra, é tetraaaaa, naquele 94. eu adorava a rollins band, achava mauzona, e não fazia idéia sobre rollins, que já era importante (eu não sabia por que), afinal tinha uma banda com seu nome, ter feito parte de um grupo seminal de hardcore chamado black flag, quando nasci.

descobri isso só depois, e vocês vão descobrir na terça (dia 11) que um dos álbuns do ano, senão o álbum do ano, rivalizando com os de kes, deerhoof, justice, caribou, os telepatas e thee more shallows, é 'rise above', do projectors _uma experiência XXXXXX (quero encontrar adjetivo 10 vezes mais potente que sublime) exatamente sobre o 'damaged', clássico do black flag que tinha raivoso rollins no vocal, em 81. em 2007, david empenhou sua voz teatral gay em uma reimaginação livre, idílica e quase ficcional do disco.

a história é a seguinte: de férias na cidade natal, ajudando, acho, numa mudança residencial de sua família, ele achou um k7 véio. típico. na fita, seu mui amado e air-imitado na infância 'damaged' tava gravado. não ouviu, teve idéia melhor: pegar um violão e, em um k7 também, registrar 'damaged' de acordo com aquilo que sua memória alcançava. de volta ao brooklyn, juntou a pequena orquestra-banda que o escuda e arranjou os retalhos de melodia e lírica em estúdio.

o resultado é uma obra de amor (mais sobre a vida, a de david, do que sobre o black flag) e de reinvenção da própria palavra "reinvenção" no pop. 'rise above' é realmente grande: tem músicas completamente alteradas (em relação às "matrizes" e com alterações nelas mesmas) e novas no sentido mais admirável e amplo. tem corais alegres mixados de um jeito que passa o limite do bom-senso e sonoridades de verão que, volta e meia, tomam forma old hardcore, cujo valor cênico é tão alto quanto o musical. é a piña colada mais bem louca e perigosa que eu já tomei.

tem batimentos e velocidades misteriosos, que nos proporcionam diferentes sensações: ora estamos suspensos no ar, ora correndo no mar. além disso, milton nascimento e itamar assumpção, com harmonias típicas, visitam essa festa da memória e das várias fantasias cujo host seria um peter gabriel surtadaço, com colar de flores. todos abençoando à beira da praia a psicodelia ainda não-enciclopediada que é o discaço.

se não bastasse o disco em si, esse paraíso de desenvolvimento artístico e humano brooklyniano permite que a baixista, flautista & vocalista ANGEL e a guitarrista & vocalista AMBER, dois dos três criativos componentes da orquestra do david, sejam duas gatinhas que, meu..., francamente, passar mal. e que devem circular nos milos garages da região. ou seja, é muita coisa. ouvi-las cantando em cada compasso como passarinhos versos tipo "miserable and thirstyyyyyyyy" é insanidade pura.

Myspace: http://myspace.com/dirtyprojectors


por Claudio Szynkier
http://descobrindobandas.zip.net/