quarta-feira, setembro 26

[Entrevista]

Dia desses, fui entrevistado por Aline Baroni, estudante do curso de jornalismo da UFPR e editora do Jornal de Comunicação da federal. Semana passada, publiquei aqui uma outra entrevista, aí para o jornal do curso, que foi parte de uma matéria escrita por Pedro Augusto de Souza. É, não só na nova música, a gente acredita nos novos jornalistas também ; )

Público contido e produção amadora são problemas da cena rock alternativa curitibana


Por Aline Baroni


Para a cena independente, o sucesso é uma espécie de tabu. Continuar no 'anonimato' ou penetrando em um público segmentado significa não expandir as vendas. Por outro lado, fazer sucesso aparentemente representa perder a independência e entrar no mainstream. Em Curitiba, além dessa encruzilhada, os músicos enfrentam ainda outros problemas, como o público mais ‘reservado’ e o amadorismo na produção. É o que diz Denis Pedroso, DJ e produtor do projeto In New Music We Trust, que incentiva bandas locais e traz bandas de outros estados para tocar na cidade. Ele ainda fala sobre as bandas curitibanas de sucesso ao Um olhar sobre Curitiba.


Aline Baroni: O público de Curitiba é mesmo frio como se diz?

Denis Pedroso: O público curitibano é mais contido. "Frio" é pejorativo demais. Algumas bandas gostam daqui porque servimos como público teste. Ou seja: se a reação for legal, quer dizer que o trabalho está bom. Dizem que somos mais críticos; quem sabe seja por isso que ao invés de participar, a gente prefira só assistir. E, às vezes, até bater palmas [risos].

AB: Pela sua experiência em trazer bandas de outros estados, você diria que os curitibanos são mais receptivos com bandas daqui ou se interessam mais pelo que vem de fora?

DP: O público se interessa mais pelo que conhece. A questão é que poucos procuram conhecer. Preferem ir a um show de bandas locais, que já ouviram, do que ver uma banda de fora. Nesse sentido, o público desse segmento, tido como alternativo, se comporta como o senso comum. Se não sabem cantar a música, criam uma certa distância e receio.

AB: Quais atualmente você aponta como as bandas curitibanas de maior destaque?

DP: Há, claro, um universo maior do que aquele que eu conheço. Mas, dentro disto, Mordida, Dissonantes, Poléxia, Sabonetes, Constanza... Ah!, tem mais, mas nessas horas a gente esquece.

AB: O que elas têm de inovador ou que te chama atenção – aliás, não só a sua, visto que elas são famosas na cena local? O que você aponta como diferenciais delas?

DP: Mordida e Dissonantes possuem um público segmentado, que está sempre presente em seus shows, além de serem boas bandas, claro. Poléxia possui uma qualidade de produção ótima, boas músicas, um apuro que em outras bandas a gente tem de esforçar pra encontrar. Já Sabonetes têm muito potencial. Estão começando, mas têm talento e são uma promessa por conseguirem aliar o rock ao pop sem fugir do óbvio. Contanza é composta por músicos experientes, têm um show muito bom de se ver e estão começando a tocar em outros estados.

AB: Qual a maior dificuldade, ou as maiores, em se fazer shows com bandas independentes em Curitiba? O que você acredita que seja o maior desafio dessas bandas?

DP: Vou por partes. A maior dificuldade é, não tenha dúvida, o público. Ele é pouco, o que faz com que as coisas demorem a se desenvolver. A segunda maior dificuldade é o amadorismo nesse segmento, tanto das bandas quanto de outros produtores e "profissionais" envolvidos.

As bandas não possuem um desafio maior do que fazer boas músicas. Porém, pecam sempre no modo amador como tratam seu próprio trabalho. Seja com um material de promoção inexistente ou ruim, seja pela produção de eventos mal organizados, que afastam o público em geral e só fazem sentido para o público amigo da própria banda.

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